Por trás das câmaras - ESECTV
- Bia Silva | Joana Teixeira | Soraia Martins
- 19 de dez. de 2018
- 6 min de leitura
A ESECTV é uma estrutura de produção de vídeo e televisão da Escola Superior de Educação de Coimbra, criada em 2003, com a colaboração de professores e alunos e em transmissão na RTP2 desde 2005. Neste sentido, fomos até ao estúdio da ESECTV falar com um dos membros efetivos e integrantes, Márcia Figueiredo, para ficar a conhecer melhor a história e todo o seu processo.
1.Como é que surgiu a ideia da criação de um programa de televisão por parte da ESEC?
Márcia Figueiredo: Bem, a ideia surgiu por parte do Francisco Amaral, que é o diretor da ESECTV e foi o fundador deste projeto. Na altura a ideia não era propriamente fazer um programa de televisão, mas simplesmente criar um espaço em que uma série de alunos (que na altura eram finalistas) pudessem pôr em prática os conhecimentos que tinham adquirido. Este projeto começou simplesmente por fazer a cobertura da Coimbra Capital da Cultura, em 2003. Posteriormente, em 2005 é que surgiu a hipótese de apresentarmos uma proposta há RTP2 para começar a fazer então um programa semanal.
2.Como se realizou o processo de parceria entre a ESECTV e a RTP2?
Márcia Figueiredo: Basicamente, isso veio num contexto mais alargado que era uma abertura da RTP2 à sociedade civil. No nosso caso ao espaço universidades, (tanto que já existiram cerca de quatro escolas a produzir para esse contexto). Então o que é que nós fizemos? Definimos uma linha e decidimos desde logo que seria um programa cultural, não propriamente fechado apenas na ESEC. Posteriormente, construímos o que se chama “programa piloto” e a partir daí entregámos à RTP que analisou e concluiu que tinha qualidade suficiente para então iniciarmos a produção. Basicamente foi isto.
3.O processo de levar o programa para o ar foi muito complicado?
Márcio Figueiredo: Não, não foi muito complicado porque foi neste contexto, ou seja, nós soubemos que havia esta hipótese, apresentámos a proposta, construímos esse primeiro programa e a partir daí eles chegaram à conclusão que tinha interesse suficiente para ser emitido num canal nacional e a partir daí a produção foi sempre contínua, portanto já lá vão… É só fazer as contas… 2005 até hoje.
4.Quais são as fases até ao programa estar no ar?
Márcia Figueiredo: Então, como em qualquer produção audiovisual, existem 3 fases, isto é aplicado por exemplo no cinema e na produção televisiva. Ou seja, existe uma 1ª fase, que é da pré-produção (vocês já estudaram isto), a produção e pós-produção. Na pré-produção e no nosso caso concretamente, visto que nós não fazemos cinema, nem ficção, nem nada do género, o que é que isso implica? Implica sobretudo escolhermos quais são os temas que nós vamos retratar, estabelecer todos os contactos para que as reportagens sejam possíveis naquela hora, com aquelas pessoas, naquele dia. Pronto, isso é uma fase essencial, portanto, seleção dos conteúdos e organização para que as gravações decorram. Depois passamos então para a 2ª fase que é da produção, que é onde se faz a recolha dos materiais, no nosso caso, é realizar as reportagens, é gravar o pivôt – a vossa ilustre colega (risos) e escrever os textos. Depois chegamos à 3ª fase, que é a fase da construção do programa em si. Esta fase pode ser subdivida em duas, a distribuição dos conteúdos pelos editores, onde cada editor vai pegar em duas ou três peças e vai construí-las. Depois existe uma fase final, que nós chamamos o alinhamento, em que decidimos, ok, o programa vai começar com esta peça, de seguida passa para a outra, percebem? A construção do produto. Pelo meio, insere-se a apresentadora, para fazer a contextualização de cada uma das peças e depois é aquilo que vocês vêm no final, há um genérico inicial, a apresentação, as peças e o final onde aparecem os créditos, etc, etc.
5.Qual o critério para a escolha dos temas dos programas?
Márcia Figueiredo: Isso é uma boa pergunta (risos). Então, os temas, como nós damos importância ao que se passa a nível cultural, têm muito que ver também com as agendas dos principais espaços de Coimbra, onde acontecem coisas, concertos, exposições, mas depois nós diversificamos também. Há lançamentos de livros, há coisas que acontecem na ESEC e que tem importância para a escola, ou para o próprio IPC. Hmmm, a nível de seleção de determinadas coisas em prol de outras, isso é sempre uma questão um pouco difícil de dizer parâmetros muito concretos, porque isso vai flutuando consoante a agenda… Vamos imaginar, nós já temos uma série de coisas marcadas para uma semana e há mais duas coisas muito interessantes, mas a equipa é pequena, então há coisas que nós gostaríamos muito de fazer, mas não temos hipótese. Existe um outro critério também importante, porque todas as pessoas que organizam qualquer tipo de evento, como é óbvio organizam-no porque acham que é importante, correto? Mas depois existe também outro fator que é, este assunto pode ser importante para mim, mas será que a nível geral vai ter impacto? Não nos podemos esquecer que qualquer pessoa pode ver este programa, ele está na televisão nacional, não é? Existe outro fator ainda, que é o tratamento televisivo, vamos imaginar, há assuntos que até podem ser muito interessantes, mas se não houver muito material visual, torna-se difícil transformar aquilo numa peça televisiva. Porquê? Porque nós não somos um noticiário. Num noticiário, nós conseguimos falar de qualquer assunto e “arrumamos” aquilo em 30 segundos, 1 minuto… Se for preciso temos uma pessoa a falar e está feita a notícia. Nós não fazemos propriamente notícia, não andamos atrás da informação dos últimos temas informativos, então há também esse aspeto, o tema até pode ser interessante, mas visualmente como é que se trata? Porque o que nós fazemos maioritariamente são reportagens. Portanto, já pressupõe algo um bocadinho mais alargado, aprofundado e se não tivermos material visual para tratar isso torna-se complicado.
6.Vocês têm alguns colaboradores. Como é que é a seleção para essas pessoas fazerem parte do projeto?
Márcia Figueiredo: Estas perguntas deviam ser feitas ao diretor, isso tem que ficar ai escrito (risos), senão parece que eu estou a sobrepor-me. Então, como eu disse no início o projeto surgiu com uma série de alunos que estavam na fase final, iam para estágio todos, eram 12 na altura, do grupo do qual eu fazia parte. Nós tínhamos a opção de ir estagiar para qualquer outro sítio (sic, tvi, rtp), mas surgiu a hipótese de criarmos nós qualquer coisa aqui. Havia material, este espaço já existia (estúdio esectv) e o Francisco Amaral, mais uma vez, achava que era uma pena existir material aqui e basicamente não ser muito usado e então foi um atirar de cabeça, doze malucos achámos: “epá, não, vamos nós tentar fazer qualquer coisa”. E qual era a vantagem disso? Efetivamente, nós teríamos que, soubéssemos ou não (risos) fazer qualquer coisa, porque entretanto veio logo esse compromisso com a capital da cultura. Inicialmente, nós produzíamos peças semanalmente que ficavam online, apenas. E onde é que eu queria chegar com isto? Isto começou como um projeto criado por alunos, embora na altura, não existisse expectativa disto continuar para lado nenhum… Neste sentido, o projeto ficou sempre associado ao curso de comunicação social. Uma das razões porque nós mantemos sempre a apresentação a cargo de alunos, é um bocadinho no seguimento dessa ideia original. Agora, à parte disso, há vários alunos que colaboram, não só de comunicação social, mas também de comunicação design e multimédia, que fazem estágio aqui e fora disso há alunos que se disponibilizam para colaborar independentemente do estágio. Não existe propriamente um critério de seleção (castings).
7.Para a escolha do apresentador/a são feitos castings e para a língua gestual também?
Márcia Figueiredo: Para os apresentadores fazemos casting, sim. Quanto à língua gestual, nós quando começámos, ainda era com alunos, mas entretanto a escola evoluiu bastante nesse aspeto. Neste momento é considerada uma escola de referência no que diz respeito à língua gestual e já temos intérpretes para os alunos. Qualquer aluno surdo que entre na ESEC já tem direito a um interprete nas aulas, que é uma coisa fabulosa e que não existe assim há tanto tempo e penso que nem existe em muitos sítios em Portugal…
Neste momento, temos 3 desses interpretes, que vêm fazer a língua gestual para o programa.


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