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"Nova Acrópole", Nova Metrópole

  • Joana Diogo
  • 6 de jan. de 2019
  • 10 min de leitura

Nesta reportagem exploro o que leva as pessoas a reunirem-se em volta da arte em geral, e da pintura em particular. Abordo também a função dessa manifestação de cultura no que toca a exprimir a identidade de cada um de nós.

Fotografia 1 - Pormenor da mesa de trabalho do estúdio de pintura da “Nova Acrópole” de Coimbra.

A “Nova Acrópole”, uma organização sem fins lucrativos, dedica-se a promover projetos culturais e artísticos. Apesar do seu nome fazer alusão à Grécia Antiga, a sua sede em Coimbra situa-se na Rua do Brasil.

Com esta reportagem, procurei investigar o que leva as pessoas a reunirem-se em volta da arte, tanto para a apreciar como para se exprimirem através dela.

Françoise Terseurame, professora formada em Belas Artes

Conforme conta nesta reportagem, Françoise Terseurame é professora de pintura e tem formação ligada à área das Belas Artes. “Fundamentalmente, interessei-me pela pintura desde muito jovem.”, refere, acrescentando “Acho que através da pintura consigo exprimir melhor o que sinto, a minha fome de sentir as coisas da vida, no fundo.”

Para além disso, virou-se também para a Filosofia, com a qual aprendeu muito. “Aprendi sobre a forma como captamos a vida e as imagens. E a Filosofia é aquilo que nos permite pôr uma luz por cima das coisas.”

Desta forma, de facto, a filosofia é para Françoise, à semelhança da pintura, uma maneira de iluminar a tela da sua vida e das pessoas com quem cruza o seu caminho. Uma forma de nos conhecermos a nós mesmos.

“Ambas são uma forma de pensar porque é que é assim, porque ocorre a mudança na natureza, na vida e no ser humano, que mudanças acontecem e como nos podemos adaptar a elas.”, esclarece. “Foi muito nesses ensinamentos que me trouxe a filosofia que despertei o meu ser interior. Acho que cresci muito como artista.”

Fotografia 2 – Apanhei Françoise “com as mãos na massa”, a ajudar tecnicamente António, um dos seus alunos.

Depois de perceber um pouco melhor o que levou a professora Françoise a mergulhar no mundo da arte, mais concretamente da pintura, passamos à arte de ensinar. “Gosto muito de ser professora, até porque aprendemos muito também sobre outras formas de olhar e sentir vários assuntos. O meu papel enquanto professora é ajudar tecnicamente, por vezes dar algumas dicas de como melhorar, como dar mais asas à imaginação naquilo que está a fazer.”

Falando agora dos projetos em que está envolvida atualmente, é professora de pintura na “Nova Acrópole” em Coimbra e também em Viseu, onde vão fundar também uma escola daquela arte.

Quando questionada sobre o mais importante para ela quanto às artes em geral, Françoise destaca a relação humana entre as pessoas que se juntam à volta das manifestações artísticas. “É por isso que conseguimos manter uma boa relação pessoal. Gostamos de nos reencontrar uma vez por semana, no espaço ‘Nova Acrópole’, para estarmos todos juntos.”

Segundo relata, esse tempo durante o qual ensina naquele local, às sextas-feiras, das 16h30 às 19h30, tem sido uma das experiências mais satisfatórias.

“É a convivência humana, a partilha de ideias, de interesses, de tudo quanto nos traga cá para partilhar um momento de ócio e, sobretudo, a dar expressão à nossa criatividade.” E realça que “Hoje todos precisamos de colocar expressão naquilo que sentimos. Seja através da pintura, da música, da dança, da literatura da poesia, é muito variado o modo como podemos fazer isso. É todo um campo de expressão.”

Luísa, aluna de pintura no “Nova Acrópole” de Coimbra, tem formação em Filosofia

Fotografia 3 - Com o apoio da professora Françoise, os alunos vão pintando e rabiscando. Misturar cores diferentes, tal como perspetivas, dá-nos vários tons de cor possíveis.

Luísa começa por contar como chegou ao interesse por aprender a pintar em telas. “Eu começo de início. Aposentei-me e pensei ‘Bem, não fico em casa. Não tenho jeito para isso, não posso.’ Então, fui à procura e encontrei esta associação. Quando me inscrevi, gostei logo.”, adianta. E continua, referindo “A Françoise, gostei muito dela, claro. Ela faz pintura e também é da área da filosofia. Eu inscrevi-me na área da filosofia e também tentei pintura. Disse-lhe assim ‘Ó Françoise, eu gosto muito de quadros, eu adoro quadros, mas não sei pintar.”, comenta entre risadas. Ao que a professora Françoise lhe respondeu “Ó Luísa, você tenta.” E Luísa assim fez. Tentou, viu que gostava e por lá continua a aparecer para aprender. “Já cá ando há 4 anos, já pintei quadros com a ajuda da Françoise, claro, que é a nossa mestre. Pintei até agora uns 7 ou 8 quadros. E gosto, adoro. Quando estou aqui esqueço os problemas de fora.”, diz, esboçando um sorriso. “E vou pintando e rabiscando, sempre com a ajuda da nossa mestre, que está sempre por trás de tudo.”

Fotografia 4 – Luísa pintando o seu quadro de eleição.

No desenho vemos uma bailarina do estilo de dança tango.

Seguidamente, fala da obra que escolheu pintar naquele momento. “Neste momento, estou a pintar uma bailarina muito colorida, toda cheia de penas. É para uma exposição que estamos a preparar. Cada um de nós escolheu uma imagem de um estilo de dança e é nisso que estamos a trabalhar agora. Vamos dar o nosso melhor e vamos lá ver como corre.”

Tal como Françoise, Luísa destaca o enorme gosto pela arte, a convivência humana e a partilha de ideias como os principais atrativos da pintura. “Nós damo-nos muito bem. É tudo malta boa. E isso ajuda-nos a fazer o melhor trabalho possível.”

Elvira, aluna de pintura no “Nova Acrópole” de Coimbra

Depois de questionada sobre como surgiu o seu interesse por pintar e como começou a fazê-lo, Elvira refere: “Comecei em 2002 com uma vontade muito grande que me deu de meter as mãos na tinta. De pegar nas tintas com as mãos e besuntar o papel. Fazer o que me desse na real gana.”

Elvira andava a dizer isto durante imenso tempo, que lhe apetecia fazer isto até que: “Uma pessoa chega ao pé de mim e dá-me um daqueles conjuntos de pintura que às vezes há em promoção no supermercado. E depois diz-me essa pessoa ‘Agora faz.’”

Fotografia 5 – Vamos testar pincéis e misturas de cores? Teste, teste… “Que tom é este?”

Ainda hoje, Elvira lembra-se do que sentiu no momento em que colocou as mãos na tinta: “Deu-me uma alegria enorme, um prazer enorme fazer aquilo. Fiz uma obra de arte na altura. Ainda a tenho guardada lá em casa como recordação. É assim em tons de azul.”

A seguir a isso, continuou a pintar com o mesmo entusiasmo. “Continuei a pintar com as mãos, depois experimentei pincéis. Seguidamente, ia à internet pesquisar como se fazia isto e aquilo.” Como Luísa, Elvira explica o seu gosto pelas artes em geral: “Sentia-me bem e preciso sempre de ter um meio de expressar as minhas emoções. Sempre estive envolvida noutros tipos de artes. Desde pequena que pratico teatro e faço dança.”

Fotografia 6 – Pintura de Elvira. A bailarina de uma dança de salão, trajada no seu vestido cheio de folhos coloridos, está pronta para começar a dançar a qualquer momento.

Portanto, quando se reformou “Estava a sentir a falta de alguma coisa. Então, virei-me para esta área da pintura. Tem sido simultaneamente um desafio e um exteriorizar de emoções.”

Esclarece que este misto de sentimentos se deve a ter dois tipos de desenhos: “Tenho dois tipos de desenhos. Este é mais relacionado às técnicas que aprendemos na aula, que a professora ‘manda’. Ou seja, posso sempre escolher o que quero pintar, mas para determinadas técnicas têm de ser um certo género de esboços, digamos assim.”

O outro é o que faz em casa: “Em casa, faço arte de uma forma mais livre. Normalmente vou para a tela sem saber o que vou fazer. Isto faz confusão a algumas pessoas, mas eu não concebo os esboços antes de começar a pintar. Misturo cores, faço os fundos das pinturas e chego à fase de contemplação, como gosto de lhe chamar. Começo a olhar para os fundos e vejo neles formas. A partir daí, faço o resto do desenho.”

“A maior parte desses trabalhos são figurativos ou abstratos e isso dá-me imenso prazer.”. Esclarece que gosta tanto dessa forma de pintar, porque “posso expressar a maioria das emoções, até pelas cores que uso nos meus trabalhos.”

“Muitos deles são à base dos verdes e dos amarelos, azuis muito poucos.”

Também em relação aos temas que pinta nota diferenças no que toca às circunstâncias em que o faz. “Normalmente, em casa posso pintar o que quero, nas aulas de pintura tenho de pintar o que estivermos a aprender, ou se for uma exposição como esta que estamos a fazer agora, tenho de fazer algo que tenha a ver com o assunto dela. No caso de me pedirem algum trabalho, porque vende, também tenho de fazer, mesmo que não goste tanto. Por exemplo, agora estou a fazer uma Coimbra, mas à minha maneira.”

“Não pinto todos os dias, só quando sinto necessidade disso. Gosto muito de pintar tudo o que não me restringir a formas específicas.”

Assim, Elvira conclui indicando que tem ido às aulas de pintura por querer aprender e não ter andado em nenhuma escola de belas artes nem de desenho.

António, aluno de pintura na “Nova Acrópole” de Coimbra e administrador escolar formado em Psicologia

António refere que sempre gostou de pintura, embora não achasse que fosse capaz de pintar um quadro. “Ultimamente quis incluir a pintura nos meus hobbies, criar algo. Este é o primeiro quadro que estou a fazer.”

Fotografia 7 - Como primeiro quadro, António optou por pintar um ramo de uma planta, à beira de um curso de água. A folha amarela parece querer dançar sobre o seu desprendimento da planta, qual bailarina no outono.

No que toca a mudanças na sua vida “Não noto grandes mudanças, para além do sentimento de grande prazer que é criar algo através da arte.”

Para António, pintar, é, desta forma, uma atividade que gosta muito de fazer. “Sinto que é muito importante fazermos atividades que complementem a nossa profissão. Também gosto muito de fotografar. Se não me dedicasse à pintura e à fotografia, a minha vida seria somente um prolongamento da minha profissão diária.”. E acrescenta: “Isto é muito disruptivo face à minha atividade profissional, claro que é. A minha formação é na área da Psicologia, mas trabalho em Administração Escolar. Tem muitos números e muitas coisas técnicas.”

Termina realçando que é precisamente devido a essa diferença de perspetiva que gosta tanto de arte: “É mais criativa, mais subjetiva. Tem de se pensar de outra maneira.”

Francesca, aluna de pintura no “Nova Acrópole”, em Coimbra licenciou-se em Enfermagem em Itália

Fotografia 8 – Cada um destes pincéis tem uma função diferente, assim como cada uma das visões artísticas das pessoas envolvidas neste projeto.

Relativamente ao que suscitou o seu interesse por pintar, responde que “Já quando era muito pequenina gostava de pintar e desenhar. Sempre foi um bocadinho natural para mim ficar presa a essas coisas. Então, numa altura em que tinha acabado de estudar e ainda estava à procura de trabalho, comecei a fazer alguns trabalhos de arte em casa, sozinha, com aguarelas. Aí, apercebi-me de que gostava mesmo era daquela parte artística. Entretanto, saí de Itália, onde tinha tirado o meu curso na altura e vim para Portugal para procurar um curso na área de pintura.”

Para Francesca a experiência de aprender pintura tem sido muito positiva, pois dá-lhe a oportunidade de descontrair do trabalho.

Fotografia 9 – A bailarina da Francesca está de costas voltadas para o observador, mas nós não estamos de costas voltadas para a pintura da Francesca. Do lado esquerdo, em cima e também por entre as flores brancas, encontramos aplicações de folha de ouro, técnica artística que a aluna diz apreciar bastante.

“Quando vim aqui para esta escola, desde o início tenho pintado temas sob a orientação da professora Françoise. Ainda não pintei nenhum quadro sozinha, mas tenho visto que gosto muito de usar aplicações de folha de ouro. Tenho usado esta aplicação em muitos quadros. Já descobri esta técnica, mas deve haver muitas mais que gosto e que ainda não conheço.”

Quanto ao que têm sido os seus maiores desafios, Francesca destaca a paciência e a persistência. “Não sou uma pessoa com muita paciência. Pintar tem-me ajudado a não desistir, a tentar sempre melhorar um quadro.”

Também a ansiedade é um dos fatores que influencia o momento em que gosta de pintar. “Quando me sinto muito nervosa, não me sai nada se quiser pintar. Tenho de estar muito relaxada, se quiser pintar muito bem. Gosto muito de o fazer ao domingo de manhã se estiver sozinha em casa.”

Francesca acha que seria complicado desenhar ou pintar sem planear primeiro. “Acho que tem de ser alguém já com muita experiência para esse método funcionar. Estou cá há 3 anos, mas não me vejo a tentar isso para já. Espero chegar lá, a esse nível técnico e artístico.”

Em relação à sua formação anterior e ao seu trabalho atual, Francesca esclarece: “Tirei Enfermagem lá em Itália, mas não exerço nessa área. Quando ainda estava no meu país de origem comecei a interessar-me cada vez mais por artes, e pintura em particular. Em consequência desse interesse, decidi vir para Coimbra frequentar esta formação com a Françoise. No que toca a trabalho, quero ir continuando a praticar pintura e eventualmente, vender os meus trabalhos artísticos, como sejam os quadros que pinto.”

Segundo Francesca, há aspetos do dia-a-dia que lhe servem de inspiração para pintar. “Pinto mesmo porque gosto. Às vezes há determinadas fotografias ou imagens que guardo como referência. Depois uso para pintar certos estilos ou adapto o meu próprio estilo de pintura consoante o que me apeteça no momento.”

Por fim, deixa uma dica a todos os que gostam de artes, mas não querem fazer disso vida, porque não desenham ou pintam muito bem: “O importante é mesmo gostar do que se quer fazer ou se faz. Porque se tivermos gosto naquilo que vamos aprender, arranjamos sempre uma maneira de nos melhorarmos diariamente. É possível praticar desenho ou pintura, desde que gostemos de o fazer.”

Exposição “A Escola de Dança”, no Café Santa Cruz, em Coimbra

Françoise em colaboração com os alunos do “Nova Acrópole” de Coimbra, aquando do momento em que foram entrevistados, estavam a preparar a exposição “A Escola de Dança”, cuja inauguração se iria realizar no dia 21 de dezembro no Café Santa Cruz, em Coimbra. É no âmbito dessa exposição que foram feitos os quadros dos alunos da associação “Nova Acrópole” de Coimbra.

A professora termina explicando que o tema da exposição é “A Cor da Dança” e que a mesma “será inaugurada no Café Santa Cruz, no dia 21 de dezembro”. Destaca também, por último a importância da colaboração entre os alunos na elaboração dos quadros uns dos outros. Para além disso, considera igualmente importante deixar a sua perspetiva sobre isso: “É muito bonito aproveitarmos as perspetivas e as qualidades de todos para terminarmos no prazo das exposições as várias iniciativas que nos propormos fazer.”

Assim, espero que esta reportagem contribua para promover a valorização das artes enquanto forma de expressão da identidade de cada um de nós e também enquanto meio de inovação cultural e científica.

Fotografia 10 – De pincel na mão, vemos uma das alunas junto ao seu quadro, que representa uma dançarina do estilo crioulo, dança típica africana. Enquanto isso, Elvira continua de volta do seu desenho.

Fotografia 11 – Outro dos quadros que podemos ver na exposição “A Escola de Dança”. Neste caso, “A Cor da Dança” também soa a música africana.

Fotografia 12 - Da América do Sul chega esta dançarina venezuelana de vestido em tons de amarelo, laranja e castanho e um pouco de verde.

Fotografia 14 – Em plier, volta e meia, meia volta, vemos esta bailarina de ballet a praticar os seus elegantes passos de dança.

 
 
 

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