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A Magia das Rádios Locais

  • Bernardo Nalha | Luís Pedro Carvalho | Miguel
  • 22 de dez. de 2018
  • 10 min de leitura

As rádios locais são uma escola para muitos jovens que ambicionam uma carreira profissional na Comunicação Social, porém a chamada “magia” da rádio parece estar a dissipar-se. Será que esta ideia está presente tantos nos jovens como nos mais velhos e profissionais?

O século XXI é marcado por grandes revoluções e mudanças a nível social, tecnológico, cultural. Sendo uma destas grandes mudanças o conceito e o estudo dos média. A rádio é um dos meios de comunicação mais antigos na história. As primeiras experiências de radiodifusão em Portugal começaram nos anos 20 do século passado.

Em 1935 nasceu a Emissora Nacional de Radiodifusão, atual Antena 1 e após a revolução de 25 de Abril de 1974, são nacionalizadas todas as rádios em Portugal, com exceção da Rádio Renascença.

Com o crescimento do meio, esta paixão ganhou asas e espalhou-se por todos os cantos do país, não só pelas cidades mas também por todas as vilas, aldeias, terriolas, de modo a chegar a toda a população. Nasceram com isto as rádios locais, emissoras mais dedicadas à sua região, muitas vezes num âmbito amador mas sempre a “amor à camisola”.

Com as evoluções ao longo dos tempos os média convencionais, seja o jornal ou a rádio, têm-se alterado drasticamente, alguns com bastantes dificuldades no que diz respeito a acompanhar os novos média e de certa forma a manter o estatuto que outrora tinham, o mesmo acontece com as rádios locais. Estas vão perdendo cada vez mais a sua “magia” devido a variados fatores até que um dia se dissipem e esta forma pitoresca e quase amadora deixe de existir.

Xavier Soares, Frederico Magueta, Catarina Santos, Fernando Dias e João José Bento são exemplos de amadores e profissionais das rádios locais, em diferentes pontos do país. Com diferentes vivências e faixas etárias contam como é trabalhar e aprender numa rádio local, as dificuldades, as diferenças de uma rádio mais familiar e de uma rádio nacional.

Xavier Soares

Aluno do 1º ano de Comunicação Social na Escola Superior de Educação de Coimbra e apesar de não ter qualquer formação em rádio, entrou este ano na Rádio Universidade de Coimbra (RUC). “Desde dos 12 anos que tinha ideia de seguir jornalismo, na altura jornalismo desportivo e desde muito cedo fui-me interessando pelos meios de comunicação social. Neste sentido o gosto pela rádio surgiu naturalmente, na medida em que tratando-se de um meio de comunicação social, permite-me estar diretamente em contacto com o meio jornalístico enquanto ganho experiência na área.”.

Frederico Magueta

Frederico, é também aluno de Comunicação Social na ESEC, mas do 2º ano. Residente em Ílhavo, distrito de Aveiro, começou a estagiar no verão na Rádio TerraNova, na Gafanha da Nazaré.

Catarina Santos

Catarina, outra jovem estudante do mesmo curso, frequenta o 3º ano e fez também um estágio de verão na sua rádio local, Rádio AVfm, da cidade de Ovar. “Gostei tanto que deixou de ser um mero estágio de verão para ser um hobby. Sempre que arranjo um tempinho, passo lá para ajudar no que puder e para alimentar um pouco o “bichinho”. Acreditem que fazer rádio torna-se viciante!” afirma.

1-Estúdio do AVFM

Fernando Dias

Fernando, tirou o curso de jornalismo do Cenjor, há sensivelmente 32 anos. Estagiou na altura na TSF, Rádio Energia, RFM, RDP, RTP, foi refundador do Jornal as Beiras. Foi jornalista na RadioAtividade (Coimbra), posteriormente 90 FM e atualmente Mega FM (estúdios em Coimbra).

Foi fundador da Rádio Popular de Soure há 31 anos, onde exerce até hoje a sua profissão, tendo em 97, fundado, o seu jornal "o Popular de Soure", tudo porque nunca se adaptou à cidade, preferindo abraçar um projeto na província.

JJ Bento

João José Matias Bento tem 68 anos. Começou a fazer rádio aos 50 anos, sendo um amador. Trabalha, enquanto hobby, na Rádio Bonfim, localizada antigamente na Chamusca e atualmente em Almeirim, e também na RCA Ribatejo localizada no mesma cidade referida, pertencente ao distrito de Santarém. João Bento faz maioritariamente trabalhos enquanto repórter de rua, pequenas reportagens e programas desportivos.

2-João José Matias Bento, repórter radiofónico

Maior diversidade...Mais concorrência

As várias rádios faladas remontam ao tempo das rádios piratas em que haviam jovens incentivados a trabalhar por amor à camisola, mesmo com baixos rendimentos. Catarina Santos expressa: “Nesses tempos, a possibilidade de se fazer rádio era algo muito atrativo, sobretudo para os jovens. Só na cidade de Ovar penso que chegaram a existir três rádios piratas, alimentadas por um espírito de voluntariado e de vontade de fazer algo pela e para a comunidade.”.

Apesar de localizadas em diferentes zonas do país, as rádios locais acabam por passar uma programação idêntico, maioritariamente música portuguesa, com alguns programas de discos pedidos, como fala JJ Bento, informação regional e em relação ao entretenimento, só tem o programa da manhã, entre as sete e as onze horas. “Depois começam os programas de televisão e acaba. Com tantos canais de televisão fica complicado a concorrência.”, expressa JJ Bento.

As maiores dificuldades…

Com o passar do tempo as rádios locais têm tido cada vez mais dificuldades em manterem-se ativas e gerarem algum lucro. Catarina Santos dá ênfase à mentalidade das pessoas e ao fraco contributo que estas fornecem: “Infelizmente (e erradamente), as rádios locais são ainda muito sinónimo de algo menor, de menos bom ou até mesmo de foleiro, digamos assim.

A população até gosta de se manter informada sobre o que se passa nas suas terras, no entanto não quer contribuir. Quando falo em “contribuir” não falo só na questão do trabalho, mas sim no teor financeiro. Preferem, de alguma forma, viver iludidas com a ideia de que estas rádios recebem bastantes subsídios e também de que a publicidade neste meio é cara e não funciona.”.

Fernando Dias e JJ Bento dão destaque principal à publicidade e ao facto de haver poucos publicitários que invistam nestas rádios bem como não haver jovens com força de vontade para agarrar nas mesmas. “Essencialmente, nesta altura, a questão de faltarem quadros pois não aparecem jovens para trabalhar.

Ainda aparece algum jovem ou outro para estagiar mas acabam sempre por sair. As rádios locais estão a perder a “carolice”, hoje já não funcionam 24 horas, e têm no máximo três empregados, normalmente um publicitário e um funcionário que esteja no estúdio ou que baste gravar os programas. As rádios locais funcionam muito por amor à camisola” , confirma JJ Bento.

Na sequência de não haver jovens, Frederico Magueta explica que rádio que frequenta a equipa é muito pequena, o que implica que as pessoas se esforcem muito mais para que o resultado seja o melhor.

O facto de a disposição das pessoas para ouvir programas temáticos ser reduzido é outro ponto indicado por Fernando Dias, preferindo estas, mais música e conteúdos muito curtos (noticias e outros) que não saturem muito. “Por exemplo, diariamente, alguns ouvintes mudavam para a Renascença para ouvir o terço e depois voltavam à nossa sintonia. Ora, percebendo isso, atualmente, oferecemos, também esse espaço religioso, e desse modo as pessoas não têm necessidade de mudar de estação.”.

“Rádio global de âmbito local”

As próprias rádios locais sofrem atualmente uma grande discriminação, principalmente quando falamos em programação a nível musical e em relação aos ouvintes das mesmas.

João Bento esclarece que isto acontece, em primeiro lugar, devido ao facto de cada rádio se restringir à sua região, o que retira logo uma parte de ouvintes e em segundo, o estilo de música, que é muito adequado à faixa etária, sendo esta mais idosa.

“ A informação que chega é rápida e as pessoas estão em casa, ligam a televisão no entanto a televisão não fala com as pessoas e nestas rádios, fala-se com as pessoas.

Há programas em que oferecem um jantar por vezes, o que é também uma forma de publicidade…. aquela gente quer falar, quer ouvir pessoas…a música que passa acaba por ser também do tempo deles.

A rádio pode ser levada para a horta, para o quintal e faz a companhia de muitos idosos. Nestas regiões funciona muito assim.”

Porém, Catarina Santos, Frederico Magueta e Fernando Dias acabam discordando desta visão “discriminatória”, comentanto que o estilo musical é o mais variado possível, apesar de manter algumas das suas origens, como por exemplo os Discos Pedidos.

No entanto, afirmam que existe uma liberdade total com o objetivo de cativar tanto os mais jovens como os mais idosos. “Como diz o próprio slogan, somos uma “rádio global de âmbito local”. Não fazemos só a cobertura do nosso concelho, mas sim de muitos outros acontecimentos considerados de interesse para o público.” , confirma Catarina.

3 - João José Bento num trabalho de reportagem no dia da tradicional apanha da espiga na Chamusca

Xavier Soares aborda o facto de o orçamento que cada estação tem influência a sua visibilidade:

“Por exemplo, a RFM tem um orçamento bem maior que a RUC, e isto vai fazer com que a RFM se torne mais visível pois para além de ter mais capacidade financeira para apostar noutro tipo de programas contratando os melhores profissionais para a área, tem mais visibilidade pois pode apostar em mais publicidade algo que a rádios como a RUC, por exemplo, estão limitadas..ainda que hoje em dia através da Internet várias rádios locais possam ser ouvidas fora da sua localidade de emissão, não deixa de ser um facto que a grande maioria continua limitada a uma mera frequência que apenas pode ser escutada num curto espaço. ".

Ora, com a correria do dia-a-dia e com as constantes deslocações para o trabalho ou escola… que ficam muitas vezes longe da área de residência, apenas a população mais idosa tem facilidade e disponibilidade para sintonizar a antena do seu rádio na emissão da rádio local.”, conclui.

João Bento refere ainda um tópico importante, nomeadamente o facto de as rádios locais não poderem ser muito independentes nem muito polémicas, pois não conseguem sustentar-se apenas com os lucros da própria e estão sempre ligadas a uma instituição e à região.

Um meio de comunicação regional, neste caso uma rádio local, não pode “falar mal de algo da região porque acaba sendo crucificada”. O repórter descreve um caso que escreveu a criticar a equipa do Almeirinense e acabou a ser corrido em Assembleia Geral e a equipa deixou de fazer parceria.

Existe sempre um grande receio da extinção das rádios locais, esta funciona muito pela limitação da fatura comercial, As câmeras municipais também pouco investem, existe portanto uma grande falta de investidores e publicitários.

​​

4 - Programações antigas da Rádio Bonfim, Chamusca.

A magia da Rádio

Fala-se também que antigamente a rádio tinha uma certa “magia” própria dela, que era o facto de não se conhecer quem estava do outro lado, ou seja, não se conhecia o locutor, apenas a voz dele, e com isso as pessoas imaginavam como seria o aspeto físico da pessoa.

Porém, com o crescimento das redes sociais e dos novos média, existe cada vez mais uma dissipação desta “magia”. Esta magia, apesar de tudo, não é característica das rádios locais afirma João Bento.

Este explica que o clima nas rádios locais é muito familiar, todos se conhecem e os próprios empregados da estação fazem questão que os ouvintes os conheçam. “…muitas vezes fazíamos encontros, para nos conhecermos, tanto ouvintes como locutores. Realizávamos galas de músicas com um grande cartel de artistas”, recorda.

5-Panfleto de um dos convívios realizados pela RCA Ribatejo e Rádio Bonfim

A influência dos novos média

As redes sociais são também um dos grandes motivos da perda desta “magia”, na medida em que hoje em dia, as pessoas acabam por conhecer não só as caras dos locutores como têm acesso a imagens do estúdio.

Já existe um acesso, em direto, da emissão do próprio programa nas redes sociais, como por exemplo num canal do youtube da estação. Frederico Magueta explica que, “Com as redes sociais, isto tornou-se ainda mais fácil, por isso acho que acabou por aproximar o público do locutor.”

Xavier Soares acredita que esta ideia não se apagou, mas sim que se alterou. Ainda que hoje em dia se viva numa sociedade bem mais aberta que antigamente onde a propagação de notícias e fotografias se dá com muito mais rapidez, devido à Internet e às redes sociais, a verdade é que a rádio permite toda uma mobilidade e comodidade que mais nenhum meio de comunicação oferece.

Ao contrário do antigamente, a “magia” da rádio já não está propriamente no pensamento de “como será a pessoa que está a falar”, mas sim, no facto da rádio poder ser uma companhia que nos permite, não “desligar do mundo”, enquanto fazemos outra coisa.

“A rádio, sobretudo para as gerações mas novas, já não está envolta em tanto “mistério” e esse facto faz com que hoje em dia ela seja encarada mais como uma companhia do que propriamente como algo cuja nossa atenção tem que estar 100% focada, aqui reside a nova “magia” da rádio.”

Contrariamente a esta posição está Catarina Santos que afirma que a voz continua a ter um grande poder. “Simplesmente, estamos na era do digital e, para a rádio (ou qualquer outro meio) sobreviver tem que se conseguir adaptar e aproveitar o melhor desta nova era.”, consolida.

Fernando Dias apresenta a mesma linha de pensamento, diz-nos que a magia da Rádio não se perdeu na totalidade e apesar de ter seguidores há 31 anos, nunca o conheceram pessoalmente. “Aliás, no facebook, não exibo fotografias minhas, utilizando mais esta rede, como uma ferramenta de trabalho, enquanto jornalista.”.

Um futuro risonho?

A interrogação passa pelo futuro que terão as rádios locais e se estas serão capazes de sobreviver às constantes evoluções tecnológicas, mantendo-se em destaque na comunicação social enquando meio convencional.

A rádio continua a ser uma grande companhia para a população e as evoluções tecnológicas e mesmo as redes sociais não surgiram para acabar com a rádio.

Se as coisas forem bem feitas, até podem trazer muitas vantagens. “Usando novamente a rádio em que estou como exemplo, a Internet foi desde logo encarada como uma grande oportunidade.

Seja na divulgação e na conquista de novos públicos para a emissão em antena ou na criação de conteúdos específicos, direcionados e de grande alcance.

A fibra ótica e o 4G foram muito importantes para a sua afirmação. Desde a melhoria do streaming de áudio, disponível 24 horas em todo o mundo, até às transmissões em direto com áudio e vídeo. Foi criado um novo site, muito focado nos conteúdos que produzimos, com milhares de podcasts disponíveis.

Passou a ser possível ter a AVfm em direto não só em Antena, como na internet em streaming.”, explica Catarina Santos.

Apesar das evoluções tecnológicas, a Rádio continua a ser imprescindível para a grande maioria da população em geral. Tal como o jornal, apesar da era digital, continuam a existir muitos assinantes,no que diz respeito à edição em papel, apesar da venda dos jornais em banca, ter diminuído. “Valem-nos os assinantes que se mantêm há muitos anos e que gostam de receber o jornal em casa. Muito desses leitores não dispensam a leitura em papel, sobretudo, de mais idade.”, refere Fernando Dias.

“Que futuro terão as rádios locais? É uma interrogação. Com a questão das novas tecnologias é complicado prever um futuro e se não aparecerem jovens e se não houver ligações às próprias terras ,os meios na região podem vir a extinguir-se”, fala JJ Bento.

O facto é que com todas as dificuldades, as rádios locais lutam diariamente para ter o seu “cantinho” num meio cada vez mais competitivo e mais abrangente, em constante mudança.

Muitas delas acabam por ser um pontapé de saída para outras coisas melhores ou uma “escola” para os futuros profissionais da área.

Sendo amadores, profissionais, estudantes ou trabalhadores, a verdade é que rádio continua a ser uma paixão de muitos, quer seja enquanto locutor, como repórter. É a Paixão total pela Rádio. A magia de que atrás abordámos e termos consciência de que a rádio, por vezes é a única família que muitas pessoas têm, principalmente as que vivem sós.

“Para quem tiver essa oportunidade, experimentem rádio porque é, sem dúvida, um meio muito fascinante e entusiasmante!”

Por: Bernardo Ventura Nalha Gonçalves, Luís Pedro Carvalho, Miguel Freitas, Ricardo Rebelo, Tiago Bebiano

2º Ano, Comunicação Social | 2018/2019


 
 
 

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