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A cultura das touradas

  • Beatriz Silva, Laura Oliveira e Soraia Lima
  • 4 de jan. de 2019
  • 4 min de leitura

REPORTAGEM SOBRE ESPETÁCULOS TAUROMÁQUICOS


A questão impõe-se: em pleno século XXI, são as touradas ainda consideradas tradição? Muitos são os portugueses que se dizem contra estes espetáculos, mas, a verdade é que nada tem conseguido parar com as tauromaquias no território nacional.



Surgiram por volta do século XII e, nos últimos anos os espetáculos de tauromaquia, como as touradas, garraiadas e corridas de touros, têm sido alvo de polémica e têm despertado um debate intenso entre quem é a favor e quem é contra. Para Inês Freire, que é a favor das touradas desde criança, este é um assunto que sabe que “gera bastante controvérsia. São tradições de imensos anos em inúmeros sítios em Portugal e a maioria das pessoas que é contra não tem noção disso “. Um dos pontos que aponta são a sobrevivência da espécie taurina já que “é do conhecimento público que a extinção desta espécie já teria acontecido se não fosse a tauromaquia. Ou seja, não existiam touros, tendo em conta que a única finalidade destes animais é para esta tradição apenas”. Uma questão que se coloca pelas pessoas que estão contra estes espetáculos é: para quê preservar uma raça que terá como único fim o sofrimento? Muitos acreditam que os touros não sofrem ou não sentem dor mas, a verdade é que a constituição do corpo destes animais, tal como de todos os mamíferos, é muito semelhante à do corpo humano. Não em forma, mas por estarem cobertos de nervos que, sentem dor quando são magoados. No caso das touradas, esses músculos não só são magoados, como são espetados e torturados durante o espetáculo.


Gonçalo Ferreira, a favor das touradas, acredita que estes espetáculos “fazem parte da cultura Portuguesa, já que são uma tradição antiga que demonstra características verdadeiras”. Acrescenta que as considera como “arte, onde são passados valores de geração em geração, tais como o respeito e a amizade. Há que manter a tradição”. A camaradagem caraterística destes eventos é conhecida pelo público juntamente com o lema “um por todos e todos por um”. Todos os profissionais envolvidos trabalham com um espírito de entreajuda desde os responsáveis pela praça aos diretores de corrida, toureiros aos ganadeiros até o espetáculo estar a ser exibido.


Por outro lado, Manuel Freitas considera-se contra as touradas e espetáculos de tauromaquia “porque além das pessoas colocarem as suas vidas em risco, existe um mau trato agressivo aos touros e muitas vezes a morte dos mesmos”. Quando questionado sobre se considera estes espetáculos como tradição ou cultura, a resposta é concisa “nunca poderá ser considerado cultura porque não é nenhuma caraterística da sociedade, é apenas algo praticado há muito tempo, ou seja, uma tradição”. Este assunto é muitas vezes abordado em debates pelos defensores das tauromaquias, por sua vez, os que não são a favor contra-atacam dizendo que no Médio Oriente, a mutilação genital feminina também é cultura e não é por isso que é uma prática correta.


No dia 27 de novembro de 2018, foi aprovada uma proposta de alteração do PSD, PCP e CDS-PP para que as touradas tenham o IVA na taxa reduzida de 6%, na especialidade do Orçamento do Estado. Frederico Magueta, contra qualquer espetáculo em questão, não concorda com esta notícia. O estudante acha que “o IVA devia aumentar e muito, para ver se o público reduzia substancialmente o consumo”. Frederico acredita que este assunto “passa também pelos meios de comunicação” que insistem em transmitir touradas regularmente, “uma vez que, infelizmente, ainda há muitos portugueses a gostar”. Inês Freire, apesar de ser a favor, acha que há outras prioridades porque “apesar de ser uma tradição, é um espetáculo que tem todo um trabalho gigante por trás que realmente precisa de ser pago. Já para não falar dos que dela são contra, acabam por ganhar um motivo para mostrar a sua indignação sobre este assunto, podendo terminar com esta tradição de forma desnecessária”. No debate do Orçamento do Estado para 2019, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, recusou a descida do IVA que incide sobre a tauromaquia de 13 para 6%, alegando que se trata de uma questão de “civilização”. Ou seja, “quando nós falamos de civilização falamos em valores civilizacionais. Não é uma questão de gosto, é uma questão de valores que partilhamos ou não. As civilizações, como temos verificado, ao longo da História têm evoluído”, justificou a ministra.


A tauromaquia não é apenas o espetáculo em si. Inclui tudo o que acontece antes, como a criação do touro, a confeção dos trajes, o desenho e publicação dos cartazes e o desenvolvimento do espetáculo em si. Em Portugal, 32 Municípios declararam a tauromaquia como Património Imaterial e Cultural, mas vários grupos de defesa de direitos dos animais consideram-nas como um ato injustificável de crueldade. Vários concelhos como Sintra, Braga, Viana do Castelo e Cascais condenam a realização de atividades de tauromaquia e o concelho do Algarve, após ter cancelado uma garraiada em 2012, afirmou que estas atividades não eram bem-vindas. Contudo, a realização destes espetáculos é legal em todo o território nacional e é crime um presidente da câmara impedir que se realizem.





 
 
 

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