Uma viagem ao mundo do futebol: Xadas ao pormenor
- Bia Silva | Joana Teixeira | Soraia Martins
- 4 de jan. de 2019
- 6 min de leitura

No mundo do futebol e de um jogador são muitos os profissionais intervenientes, tendo cada um deles uma determinada função, seja nos treinos, durante os jogos ou até mesmo “fora de campo”. No Sporting Clube de Braga, os dias começam cedo e o dia a dia de um jogador, conta com vários profissionais em diferentes áreas que acompanham toda a equipa, de modo a garantir a boa performance do coletivo.
Bruno Alexandre Vieira Almeida, mais conhecido por Xadas em homenagem ao seu avô, tem vinte e um anos e é jogador do Sporting Clube de Braga há quatro. Para ele tudo começou desde muito cedo, quando lhe foi incutido pelo seu progenitor a paixão pelo futebol. Apenas aos cinco anos começou por jogar no milheiroense e ser jogador profissional sempre foi a sua prioridade. Percebeu, então, desde novo que o mundo do futebol inclui vários intervenientes que participam, direta e indiretamente, na rotina dos jogadores. Neste sentido, a presença dum nutricionista nos clubes é fundamental, tendo em conta que a alimentação dos jogadores é crucial, já que influencia a anatomia dos mesmos. O nutricionista do Sporting Clube de Braga recebe vários jogadores para controlar a alimentação de cada um, sendo que o planeamento da referida varia de acordo com o mesmo. Samuel Amorim afirma que: «É evidente que o planeamento da alimentação de um atleta é distinto para cada um, é preciso ter em conta o padrão alimentar do atleta (horários, refeições, gostos alimentares, cultura, religião…) bem como objetivo pretendido (perda de massa gorda, ganho de massa muscular) e dispêndio energético (metabolismo basal, volume/intensidade de treino)». Além de planear a alimentação, uma das tarefas imprescindíveis é a pesagem dos jogadores como nos diz o nutricionista, «Se apenas for o caso do peso corporal, a pesagem diária é importante, pois o atleta tem noção da evolução que está a decorrer, principalmente se o mesmo estiver num plano de redução de massa gorda ou num plano da massa muscular. Portanto, um atleta que tenha o registo do peso corporal diário irá comprometer-se de forma mais eficaz com o plano previamente definido, pelo contrário, sem esse registo de peso a adesão será menor.» Para além de a alimentação ter consequências a nível físico, «O binómio massa muscular/massa gorda pode condicionar índices funcionais como velocidade, resistência, força, agilidade, entre outras características físicas.» No caso da composição corporal diz-nos que «a composição corporal de um futebolista é considerada uma das variáveis que merece maior atenção, avaliação, vigilância e intervenção, porque pode ser decisiva no rendimento desportivo». Ademais, o nutricionista explica que: «Numa perspetiva mecânica, o excesso de massa gorda representa uma carga inerte, um "peso morto", que o atleta tem que carregar. No futebol, como a massa corporal tem que ser transportada contra a força da gravidade, em regra uma constituição mais magra oferece uma vantagem competitiva. De um ponto de vista metabólico, o excesso de massa gorda está associado à diminuição da capacidade de trabalho físico (menor desempenho) e a um aumento do custo energético do movimento (fadiga precoce)».

O que também faz parte da vida de um jogador de futebol são os rituais na hora de pisar o relvado. Como muitos, Xadas não é exceção e também segue o seu ritual: entra em campo com o pé esquerdo, por ser o seu pé preferencial, toca no chão e benze-se três vezes (que representa a família, avô e namorada), reza e volta a benzer-se três vezes, sempre com o pensamento nos referidos. Para que seja possível que Xadas entre em campo, outro dos intervenientes que garante o bem-estar dos jogadores é o fisioterapeuta. A importância desta figura num clube de futebol é realçada pelo fisioterapeuta do clube em causa, Francisco Miranda que afirma que: «A necessidade dos clubes de futebol terem fisioterapeuta, deve-se, em primeiro lugar ao facto do futebol e as práticas desportivas estarem a evoluir, onde a organização tem permitido orientar futebolistas e desportistas no geral para uma otimização do seu rendimento, para uma prevenção da lesão e uma tentativa de criar condições há retoma desportiva, mais breve, após lesões. O fisioterapeuta, no sentido literal da palavra, é fundamental que esteja enquadrado na reabilitação dos futebolistas no sentido em que trabalha principalmente com questões de terapia associadas a movimento, como qualidade do movimento, eficácia do movimento, entre outros.» Ainda assim, existem muitos outros intervenientes que o mesmo refere como imprescindíveis: «…mas nunca se hão de esquecer outras figuras como é o caso do médico, o profissional na área da educação física, o profissional da osteopatia, a enfermagem desportiva, o massagista, entre outros.» O jogador de futebol pensa com a cabeça e age com o corpo, por isso, ter de dizer a um jogador que tem uma lesão grave poderá ser a tarefa mais difícil de um fisioterapeuta, no caso de Francisco Miranda , este diz-nos que: «Como gosto muito das áreas do comportamento e tento estudá-las um bocado, ainda mais difícil é perceber isto. Não há efetivamente um “manual de instruções” para dizer ao atleta que ele tem uma lesão grave, especialmente se a lesão por si for uma lesão que possa trazer alguma incapacidade, ou no caso de ser num período muito importante da sua carreira… Acho que se deve falar disto com honestidade, falar disto duma forma solidária , falar disto com o sentimento do que está a acontecer com ele podia acontecer comigo. Se for colocada esta parte humanista no decorrer do processo torna tudo mais adequado, não vou dizer mais fácil, porque fácil não será.» Esta figura é imprescindível todos os dias, seja em treinos, jogos, estágios e campeonatos mundiais. Xadas, recorda a sua participação no mundial Sub-20 por Portugal em 2017, considerando esta participação o auge da sua carreira.

Foram várias as mudanças na vida do jogador enquanto pessoa: teve que amadurecer mais rápido, ter uma personalidade vincada e definir os seus objetivos, uma vez que saiu de casa com apenas quinze anos. Reconhecido pelo seu trabalho, diz que nem tudo é positivo na sua carreira, pois, a partir do momento em que é reconhecido expõe-se a ele e consequentemente à sua vida pessoal. Tenta sempre proteger as pessoas que o rodeiam, dado que estas começam a ser igualmente e involuntariamente expostas, o que nem sempre é agradável. Fazendo parte deste mundo considera que é preciso ter um psicológico forte, ser convicto de si próprio e ter consciência que dá sempre o seu melhor. Para dar o seu melhor em campo e para obter os melhores resultados, tal como os restantes jogadores, necessita de uma figura que ensine, como é o caso do treinador adjunto do clube. João Martins afirma que: «Um treinador tem que ser antes de mais, um professor, ou seja, enquadrar-se com o aluno, o jogador, que tem à sua frente.» No entanto, tendo em conta que os jogadores têm características diferentes, o treinador explica que «Nem sempre os mesmos métodos funcionam com diferentes jogadores. Antes de mais, tem que ser pedagógico, compreensivo, perceber que os jogadores vêm duma determinada realidade e o treinador tem que ser tolerante com isso. Tem que se ter em atenção o coletivo sempre em primeiro lugar para as coisas correrem bem.» O treinador também é quem decide o que vai acontecer no jogo e quais os convocados para o mesmo. A convocatória dita as viáveis opções que o “mister” tem disponíveis para o jogo, isto é quem fará parte do “onze inicial”, o que não tem que ver com preferências, mas sim com estratégia. «Normalmente o treinador tem uma estratégia para o jogo que vai ter pela frente e existem jogadores que só fazem algumas posições. Por norma, a convocatória é feita de acordo com os jogadores que o treinador tem pensado que vão jogar: ou por estratégia de jogo, ou porque na opinião do treinador tem mais rendimento no presente que os outros. Os jogadores são selecionados e depois o treinador seleciona as opções que acha que também vão ser viáveis nesse jogo. Por exemplo, já houve convocatórias que o treinador convoca dois jogadores para a mesma posição, mas na altura da convocatória ainda não sabe qual deles é que realmente vai jogar. Neste sentido o que normalmente o treinador faz é uma espécie de filme do jogo.»

Tendo em conta o fanatismo que é tido pelo mundo do futebol, a vida dos jogadores acaba por ficar inevitavelmente exposta, surgindo tanto consequências boas como más. Sendo alvo de críticas com as quais nem sempre é fácil lidar, Xadas afirmou: «Muitas vezes são os típicos “treinadores de bancada” que criticam, tendo em conta que não sabem o que um jogador de futebol passa e pensam que só porque ganhamos bons ordenados não temos vida pessoal. Não medem as observações que nos fazem e o quanto podem também magoar os nossos familiares, mas o melhor mesmo é não dar importância e se possível não ler jornais, nem consultar as redes sociais no que toca a isso.» Atualmente não se imagina a fazer outra coisa, pois desde pequeno teve como único objetivo ser jogador de futebol profissional, considerando ainda que nunca devemos desistir dos nossos sonhos. Vê como ídolo Rui Costa, porque se identifica com o seu estilo de jogo e futuramente ambiciona chegar a um clube do mais alto nível, representar a seleção principal e ganhar títulos.
Rematando, não no sentido literal, Xadas deixa um conselho para quem quer entrar neste mundo: “Trabalhar arduamente todos os dias nos treinos, nunca desistir dos sonhos e aceitar a crítica como forma de melhorar o que menos faz de bem. São três aspetos fundamentais para se chegar ao mais alto nível.”

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