CONSUMISMO OU CELEBRAÇÃO?
- Bernardo Nalha | Luís Pedro Carvalho | Miguel
- 5 de jan. de 2019
- 4 min de leitura
Os efeitos consumistas verificados na baixa de Coimbra, numa era em que as grandes superfícies cada vez se acomodam mais na liderança de preferência dos consumidores.

1- Baixa de Coimbra
O natal dos tempos modernos. As ruas da baixa de Coimbra espelham um clima caótico, na corrida pelo presente perfeito. Existirá uma estreita relação entre o materialismo e o espírito natalício, ou estaremos perante um consumismo exacerbado, em detrimento da verdadeira causa celebrativa que caracteriza esta época festiva?
Chegado o mês de dezembro, a afluência às lojas é justificada pela época natalícia. Desde cedo as pessoas procuram fazer as compras de natal e é evidente a relação entre o simbolismo desta época do ano, com a prática consumista que se verifica neste mesmo período.
Na baixa de Coimbra, os testemunhos comprovam que o comércio nas pequenas superfícies não tem apresentado resultados muito animadores. Uma das proprietárias da loja In Vintage, Verónica Ferreira*, confessa: “o fórum e a falta de estacionamento são as razões pelas quais as pessoas não visitam as lojas da baixa”.

2-Loja In Vintage
Com o crescimento intensificado das grandes superfícies, nota-se uma perda de afluência destas lojas, que vivem cada vez mais do poder de compra de turistas, nomeadamente noutras épocas do ano, como testemunha Jorge Mendonça*, na loja de música Olímpio Medina: “já significou em anos anteriores, atualmente não! Gosto mais dos turistas, no verão”.
Contudo, apesar de cada vez mais reduzido, existe um aumento do número de vendas durante as festividades que marcam o fim do ano: “significa consumismo, as pessoas consomem mais, a todos os níveis” explica Sara Oliveira*, uma das donas da loja Arco Almedina. Mesmo assim, a perda de clientela por parte destas pequenas superfícies comerciais é reconhecida pela própria: “mas tem vindo a diminuir”.
Para percecionar este tema, importa referir o estabelecimento de uma articulação entre o nível de gastos efetuados pelas pessoas, em relação à verdadeira essência que uma época como o natal pretende transmitir. Neste sentido, as opiniões dadas pelos populares apresentam-se de forma bastante consensual.
Fabiana Xavier e Catarina Nunes, duas estudantes universitárias, quando questionadas sobre se sentem algum tipo de pressão em oferecer algo aos seus entes queridos, devido aos padrões consumistas verificados na nossa sociedade, respondem prontamente: “Sim! Mas depende muito da pessoa com quem vais ter esse gesto”, partilhando da mesma opinião, uma outra estudante do ensino superior acrescenta: “é sinal que nos lembramos das pessoas”.

3-Iluminação da avenida da Baixa de Coimbra
Mas afinal, existindo a necessidade de presentear aqueles que nos são mais próximos, oferecer algo simbólico não seria mais apelativo, dado a essência da época natalícia?
“ - Sim, claramente” respondeu Lívia Vitória uma estudante Brasileira em Erasmus. A mesma acredita que o consumismo verificado não deveria estar diretamente relacionado com o simbolismo dos presentes: “acho que o presente deve ser uma forma de demonstrar carinho e a relevância da pessoa em vez de uma obrigação de comprar um presente só por ser natal”.
Oscultando uma pessoa de uma faixa etária diferente, o proprietário da Olimpia Medina desabafa: “antigamente era para todos, até para clientes, mas agora só dou às crianças... Os outros filhos já são crescidos, então é melhor dar dinheiro e pronto, é muito mais prático”.
Independentemente de todos os fatores que influenciam a opinião de cada um sobre este tema, os cidadãos parecem recusar a ideia de se sentirem influenciados a entrar no materialismo, no que toca à escolha das prendas de natal. Admitem que o fazem, sobretudo, como demonstração de apreço.
Então, uma prenda feita pela própria pessoa, não teria tanto ou mais valor? Bastante convictas, Fabiana e Catarina respondem: “sem dúvida mais valor, o esforço e dedicação são muito importantes”. Para estas estudantes, seria uma boa forma de contornar este fenómeno consumista e ao mesmo tempo exaltar o caracter simbólico daquilo que se pretende dar.

4 - Árvore de Natal junto ao Mosteiro de Santa Cruz
Sobre a preferência, no que respeita à escolha do local para fazer as compras de natal, os entrevistados afirmam que depende muito do tipo de prenda que se quer, ainda assim, as grandes superfícies parecem ser mais atraentes, porque apresentam uma maior variedade, tanto de produtos como de preços.
Analisadas todas as variáveis que poderiam afetar esta temática, é seguro afirmar um decréscimo de protagonismo do comércio tradicional, na baixa de Coimbra, face ao alargado leque de opções, que as grandes superfícies oferecem aos consumidores.
Por esta razão, os efeitos consumistas ainda que notórios, são cada vez menos visíveis nesta zona da cidade, em contraste com o crescente aumento do consumismo verificado nas grandes zonas comerciais. O perder da tradição, bem como a incapacidade de fazer frente ao grande comércio, explicam um pouco este fenómeno que tem tendência a intensificar-se por todo o país.

5- Concerto de Natal na Câmara Municipal de Coimbra
* - Os nomes apresentados com * são nomes fictícios de modo a proteger a identidade dos entrevistados
Fotografias: Bernardo Nalha
2º ano, Comunicação Social, ESEC 2019.
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